domingo, abril 25, 2010

João Sayad critica jornalismo da TV Cultura

A disputa de poder na TV Cultura, que a imprensa levou a público nesta semana, já estava acirrada nos bastidores da Fundação Padre Anchieta (FPA), que administra o canal.
Ata da reunião do conselho curador da FPA à qual a reportagem teve acesso registra críticas de João Sayad, secretário de Estado da Cultura de São Paulo, ao projeto de jornalismo apresentado por Paulo Markun, atual presidente da emissora. Ele propôs fazer pesquisas para aprovar as mudanças. Sayad disse ter “horror” à ideia.

O conselho elege em maio novo dirigente da TV, e Markun perdeu apoio do governo estadual, que exerce forte influência entre conselheiros. Sayad foi escolhido para o cargo.
Em 8 de fevereiro, Markun apresentou ao conselho balanço de sua gestão, iniciada em 2007. Após detalhar os aspectos financeiros (como o aumento da receita, de R$ 184,5 milhões para R$ 215,5 milhões), admitiu que “a maior parte da energia do primeiro mandato não foi na programação”. “As demandas com investimento, marco regulatório, contrato de gestão etc. tomaram muito tempo”, afirmou.
Mencionou alguns dos programas criados em sua gestão, como “Tudo o que É Sólido Pode Derreter” e “Ecoprático”.
As diferenças com Sayad vieram à tona quando Markun apresentou um projeto de mudanças no jornalismo. Após exibir um vídeo, disse estar trabalhando na criação de um telejornal e defendeu “apoiar as eventuais modificações em pesquisas qualitativas com pessoas da área da comunicação”. Citou problemas da estrutura: “Em Brasília, a Globo tem 32 equipes de jornalismo, a Record, 29 e a Cultura, duas.” Afirmou que a concorrência das grandes redes, de canais de notícia e da internet “reduzem nossa margem de manobra”.
“Espero curioso essas modificações, mas me preocupa a forma como foi colocada”, rebateu Sayad. “Menor número de jornalistas, menor volume de equipamentos, menor cobertura de outras cidades do país não devem ser vistos como restrição ao novo jornalismo. Devem ser ponto de partida.”

Para ele, essa “é a base do projeto”. “O jornalismo deve ser muito inovador, muito diferente, compatível com o caráter público.” Sobre a ideia de Markun de usar pesquisas para validar as mudanças, foi contundente: “Tenho horror de fazer alguma coisa e verificá-la pela pesquisa. Parece um jogo de espelhos em que você se coloca à mercê das pesquisas quantitativas, qualitativas. Acho que é uma limitação. Queremos ver a criatividade, a iniciativa, a novidade da TV Cultura. Não cabe à opinião pública. Prefiro dizer que, se desagradar bastante, ótimo. Se for indiferente, péssimo”.
Procurado ontem, Markun não comentou.

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