domingo, maio 16, 2010

"Globo Mar" introduz tema com respeito

Neófito e desinteressado espectador de estreias televisivas, cheguei -bem impressionado- ao final dos quatro primeiros episódios de "Globo Mar" (quintas, às 23h45; classificação não informada).
Para começar, foi boa escolha a de Mariana Ferrão e Ernesto Paglia como apresentadores.
Para um tema tão vasto e rico, tão singrado de especialistas, uma boa dose de humildade e respeito da parte de quem o introduz fez muito bem -como também fez o bom humor, sem excessos.
A ideia de convidados especiais, conhecidos do público, creio, é desnecessária. São justamente os desconhecidos autênticos que tornam interessante a vida no mar.
Péssima escolha foi o horário. Tarde como se houvesse medo de incomodar a audiência, desperta e crítica. Cedo demais para noctívagos profissionais ou navegadores insones.
Serviu para testar o público que, ao que parece, foi bom. Os temas cotidianos, escondidos do dia-a-dia de quem fica em terra, ajudarão a série. E também a nossa curiosidade pelo meio imprevisível, pelo que não conhecemos, pelo ganha-pão arriscado ou por tudo que sabemos que não faríamos.
Tentativas passadas de falar das coisas do mar, na televisão, falharam. Talvez porque nasceram empanturradas de adjetivos e exageros... tubarões assassinos, ondas descomunais -essas expressões do jornalismo que, no mar, não existem.
Talvez porque omitiram coisas simples e grandes de gente que não tem plateia e que, para continuar viva, não pode errar.
Falharam por tentar dramatizar o que é apenas difícil, vício incorrigível da nossa TV.
O assunto mar, por esse nosso lado do Atlântico, é particularmente ilustrado. A nossa história não americana, as cores da nossa pele , a diversidade de tipos de embarcações, a jangada de Piúba, um Zé Peixe usando em alto mar o corpo de 80 anos... há muito do que falar, e pautas não faltarão.
Os oceanos doces e os sólidos. Ou clima, indústria, moda, soberania, técnica, migração, música, fome, sede, guerra.

Quase tudo pode ser puro assunto de mar.
O duro, como se viu, vai ser captar as cenas. Continuidade, que até uma película como "Titanic" não conseguiu; assistentes e jornalistas encharcados; atrasos e vendavais. Esses são alguns dos desafios, e é boa a ideia de não os esconder.
Competência e meios para espalhar uma série consistente -quem dera uma sucessora da lendária "Thalassa" francesa- os atuais envolvidos têm. E audiência não faltará. Que não falte o engenho nem a arte.

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